É cada vez mais crescente o apelo para o consumo de megadoses de vitaminas. Na esperança de ficarem mais saudáveis, fortes e rejuvenescidas, muitas pessoas consomem desnecessariamente e sem critério grandes quantidades desses micronutrientes todos os dias. A forte evidência entre o consumo de frutas e hortaliças e a diminuição do risco de diversos tipos de cânceres fizeram com que o homem isolasse substâncias presentes nos alimentos, sob forma de cápsulas, para testá-las como possíveis agentes carcinogênicos.
A busca pela cura e o acesso as pesquisas que circulam pela internet (muitas das vezes contraditórias e sem evidências clínicas) alimentam o entusiasmo do paciente por essas cápsulas milagrosas. Mas elas podem acarretar efeitos adversos. As modalidades de tratamento utilizadas na terapia antitumoral, como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, assim como diferentes associações entre elas, podem aumentar as necessidades de micronutrientes, devido à maior produção de radicais livres e perdas nutricionais durante esse período. Frequentemente os pacientes apresentam anorexia, náuseas, vômitos, mucosite, diarreia e aversões alimentares contribuindo para limitar ainda mais a ingestão e o aproveitamento dos nutrientes. Nesse sentido, o uso de suplementos nutricionais orais, orientados por profissional especializado como um nutricionista, torna-se importante a fim de recuperar o estado nutricional do paciente.
Alguns complementos alimentares com adição de nutrientes considerados especiais na prática da nutrição oncológica, como glutamina, arginina, aminoácidos de cadeia ramificada e ácidos graxos essenciais (EPA e DHA, da família omega 3), parecem contribuir para diminuição da perda da massa muscular, melhorar o sistema imune, reduzir as complicações pós-operatórias, melhorar a tolerância à quimioterapia e radioterapia e proporcionar melhor qualidade de vida do paciente.
Apesar desses benefícios, a indicação de suplementos não deve ser feita de maneira empírica, pois podem tanto inibir quanto intensificar a carcinogênese como aconteceu nos EUA. Em 1990, os pesquisadores descobriram que a suplementação diária com 30mg de betacaroteno aumentou em 28% o risco de câncer de pulmão em fumantes, ex-fumantes e pessoas expostas ao amianto e ao fumo do tabaco. Já em 2001, um estudo clínico realizado com 35mil homens mostrou aumento do risco de câncer de próstata com a suplementação de vitamina E.
O elevado consumo de licopeno (tomate ou seus derivados cozidos em pequena quantidade de gordura) tem sido associado à redução do risco de câncer de próstata, enquanto que o uso do licopeno isolado (suplemento) ainda não teve provado seu benefício. Além disso, o uso de antioxidantes em doses exageradas durante a quimioterapia pode inibir importantes mecanismos de defesa contra o câncer. Em 2000, Salganik mostrou que o acetato de alfa-tocoferol (vitamina E), potente agente antioxidante de membrana, inibe a geração de radicais livres em células do câncer de mama e como consequência inibe também a apoptose dessas células malignas
Percebe-se então que, na verdade, não são os compostos isolados e ingeridos sob a forma de suplementos que podem diminuir o risco de câncer, mas sim uma dieta rica em frutas e vegetais fontes de antioxidantes. Entretanto, na impossibilidade da adequação alimentar e/ou baixas concentrações plasmáticas de micronutrientes, deve-se iniciar o uso de suplementos, sempre por profissional especializado, a fim de atingir as necessidades nutricionais sem exceder as recomendações da DRI (Dietary Reference Intakes ou Ingestão Diária Recomendada).
por Diego Spósito 13/07/2015