Foi liberado um novo estudo publicado pelo International Journal of Infectious Diseases, com uma análise de 28 mulheres grávidas e 54 não gestantes, internadas com COVID-19 confirmada, entre 15 de janeiro e 15 de março, no Hospital Central de Wuhan, na China.
Caso queira, pode acessar diretamente a publicação por este link: https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)30280-0/fulltext
O estudo foca no comportamento do novo coronavirus em gestantes, já que é sabido que durante a gravidez há uma adaptação imunológica especial.
Leia na íntegra:
Coronavirus disease 2019 in pregnancy
Qiancheng X, Jian S, Lingling P, Lei H, Xiaogan J, Weihua L, Gang Y, Shirong L, Zhen W, GuoPing X, Lei Z; sixth batch of Anhui medical team aiding Wuhan for COVID-19.
As mulheres grávidas desenvolvem uma adaptação imunológica especial, necessária para manter a tolerância ao feto, modulado pela supressão da atividade das células T, predispondo-as a infecções virais. Durante a pandemia de influenza H1N1 de 2009 e na epidemia por síndrome respiratória aguda grave (SARS), observou-se que as gestantes tinham maior chance de desenvolver pneumonia grave, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), necessidade de ventilação mecânica e óbito, em comparação com mulheres não gestantes em idade reprodutiva.
No presente estudo, desenvolvido no Hospital Central de Wuhan, China, foram revisados os registros médicos de mulheres grávidas e mulheres não gestantes em idade reprodutiva (considerado entre 18 e 41 anos), internadas com COVID-19 confirmada, entre 15 de janeiro a 15 de março de 2020. O objetivo era comparar a evolução nos dois grupos e transmissão do SARS-CoV-2 para o feto.
Os desfechos de interesse incluíram gravidade da COVID-19, período de hospitalização, tempo para a eliminação viral e potencial de transmissão vertical.
Foram incluídas 28 mulheres grávidas e 54 mulheres não gestantes em idade reprodutiva. Não havia diferença significante entre os dois grupos, em relação à idade (p = 0,097) e presença de comorbidades (p = 0,062). As mulheres grávidas tiveram um período mediano mais curto desde o início da doença até a admissão, em comparação com as mulheres não grávidas (p < 0,001), o que pode ser explicado pelo tempo de espera para os testes serem menores para pacientes prioritários.
As principais queixas na admissão foram pouco diferentes, com febre e tosse sendo mais frequentes no grupo não gestante, enquanto dor abdominal foi relatada apenas entre as gestantes.
Duas (7,1%) pacientes do grupo gestante apresentaram COVID-19 leve, mas maioria dos pacientes foi classificada como pneumonia moderada (24, 85,7% vs. 53, 98,1%). Apenas duas (7,1%) pacientes no grupo gestante e uma (1,9%) no grupo não gestante foram classificadas como pneumonia grave. Nenhum óbito foi relatado nos dois grupos.
A regressão univariada demonstrou não haver associações significativas entre gravidez e tempo de eliminação viral (HR 1,16, IC 95% 0,65-2,01; p = 0,62), tempo de hospitalização (HR 1,10, IC 95% 0,66-1,84; p = 0,71) e gravidade de doença (OR 0,73, IC 95% 0,08–5,15; p = 0,76).
A idade gestacional mediana na admissão foi de 38 semanas (IQR, 36,5-39), com três (10,7%) no primeiro trimestre, um (3,6%) no segundo trimestre e 24 (85,7%) no terceiro trimestre. As gestantes no primeiro e segundo trimestre decidiram por si próprias pela interrupção da gravidez. Duas gestantes no início do terceiro trimestre continuaram a gravidez (30 e 33 semanas gestacionais, respectivamente) no momento da escrita do artigo, enquanto as outras (22, 78,6%) tiveram 23 nascidos vivos (incluindo dois gêmeos) por cesariana (17, 60,7%) ou parto vaginal (5, 17,9%). Uma paciente teve parto prematuro com 35 semanas gestacionais, mas teve um recém-nascido saudável pesando 2940 g. Apenas um dos gêmeos nascidos tinha peso de nascimento inferior a 2500 g (2350 g). O peso mediano dos recém-nascidos foi de 3130 g (IQR, 2915-3390). Não se verificou morte fetal, morte neonatal ou asfixia neonatal. Todos os neonatos tiveram pelo menos dois testes negativos para SARS-CoV-2 por reação em cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR), com intervalo de 24 a 48 horas, sem qualquer resultado positivo; portanto, nenhum neonato foi infectado.
Pelos achados do presente estudo, as mulheres grávidas tiveram evolução semelhante à mulheres não grávidas em idade reprodutiva infectadas com SARS-CoV-2. Também não se evidenciou transmissão vertical, mas os pesquisadores alertaram que as gestantes avaliadas foram infectadas no final da gravidez, impossibilitando analisar o potencial de transmissão do vírus nos primeiros trimestres.
Referências:
- Qiancheng X, Jian S, Lingling P, et al. Coronavirus disease 2019 in pregnancy. Int J Infect Dis. 2020. doi: 10.1016/j.ijid.2020.04.065. [Epub ahead of print]
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